Além dos Rios, uma aventura sem fim

Livro conta as experiências do navegador solitário Aladir Murta, um mineiro de mais de 70 anos que lançou-se numa aventura de percorrer os rios brasileiros numa canoa a remo. Embarque nesta aventura também.

Revista entrega o Troféu Outsider a Aladir Murta

A revista Go OutSide, da Editora Três, voltada para o público amante de esportes de ação e aventura realizou no último dia 2 de maio solenidade para a entrega do “Troféu Outsider”aos 15 que mais se destacaram no ano passado. E dentre eles, quem levantou o seu troféu foi Aladir Murta, personagem do livro Além dos Rios. Acompanhado do seu filho Cláudio e do autor do livro, o velho navegador subiu ao palco para receber o prêmio, agradecer a Revista e dar um show de desapego. Houve dois momentos marcantes da solenidade e que arrancaram aplausos dos atletas renomados e dos presentes. Um foi quando Aladir homenageou os demais premiados distribuindo colares feitos por índios de uma tribo da região do Rio Negro aos demais premiados. O segundo foi a entrega da Bandeira Nacional, que durante anos ficou exposta na popa da sua canoa e o acompanhou nas suas aventuras ao escritor Antoninho Rossini. “ Esta bandeira é o que tenho a oferecer ao escritor e jornalista que acreditou em mim; saiu de São Paulo e conviveu comigo em Xambioá, no Tocantins para escrever este livro. Obrigado amigo Antoninho”, disse Aladir durante a solenidade.
   
Surpresa e emoção
“Vocês tem certeza que eu mereço esse prêmio?”, disse Aladir ao ser comunicado pela Revista que seria um dos outsiders do ano. Num dos textos dedicados a Aladir, o jornalista Mário Mele, da Revista diz: “ Há mais de uma década, Aladir rema a esmo pelos maiores rios do centro-oeste e norte Brasil. E o simples fato de não ter hora nem lugar marcado para chegar o tornam um dos aventureiros mais autênticos que já tivemos notícia. Desde 2000 Aladir tem levado uma vida de total desapego. Sua consciência chega ao ponto de devolver um peixe ao rio caso ele seja maior do que sua fome. Para Aladir, a natureza nunca erra, e por isso ele não se arrepende de nenhuma experiência que viveu durante todos esses anos.
Até hoje, Aladir já remou mais de 40 mil quilômetros. Mas seu compromisso não é com nenhum recorde mundial. Para não dizer que não tem nenhum objetivo nessa longa e interminável jornada fluvial, Aladir faz questão de falar sobre a importância da conservação dos rios, nas comunidades ribeirinhas por onde passa.
PALAVRA DE OUTSIDER: “Começar a navegar foi o maior presente que Deus me deu. Passei a valorizar mais todas as coisas. Por isso eu digo: não deixe para amanhã o sonho que você tem hoje”.

Veja as fotos:

Aladir ao lado de Fernando Fernandes, bicampeão mundial de paracanoagem  
Aldir , seu filho Cláudio e o escritor Antoninho Rossini, que recebeu a bandeira que acompanhou o Aladir durante anos, em sua canoa
O jornalista Mário Mele, recebeu das mãos de Aladir uma cópia do livro Alem dos Rios, com dedicatória que foi lida e aplaudida


O reencontro

 Dando continuidade à publicação dos capítulos do livro Além dos Rios, leia abaixo "O Reencontro".

Desde o nosso primeiro encontro já haviam se passado quase quatro meses, quando numa manhã de meados de outubro de 2008 Aladir me ligou. Ele se encontrava a 150 quilômetros Araguaia abaixo do local onde nos conhecemos. Estava ancorado no pequeno município de Xambioá, no extremo norte do Tocantins, na colônia de pescadores da localidade. Fora levado até lá pela sua inseparável e cúmplice canoa deslizando sobre as águas do Araguaia, não sem antes enfrentar águas menores de afluentes desse majestoso rio.

Xambioá tornou-se conhecida por causa do movimento armado posteriormente chamado de Guerrilha do Araguaia, cujo plano era depor os militares que assumiram o poder no Brasil em 1964. Esse movimento, liderado pelo Partido Comunista do Brasil (PCdoB), na época comandado por João Amazonas, criou núcleos de treinamento na floresta e ações de relacionamento nas pequenas cidades da região, tanto nos estados do Pará e do Maranhão como no Tocantins, que antes fazia parte de Goiás. Durante dois anos, o Exército adotou a tática de escaramuças e infiltrou seus agentes entre as populações ribeirinhas para levantar informações sobre as condições e os meios adotados pelos guerrilheiros. Há um caso contado pelos habitantes de Xambioá sobre um homem malvestido que apareceu por lá vendendo alho de casa em casa. Era bom de prosa e assim conseguiu informações importantes para as forças militares. O resultado dessa operação de guerrilha deixou 76 mortos, entre guerrilheiros e habitantes da região. Filmes e ambientação para livros descreveram essa passagem da história recente do Brasil. Mas Xambioá tem muito mais. Ali se encontram registros pré-históricos em gravuras rupestres como a “Pedra Escrita”, cavernas em calcário formadas há milhões de anos, cachoeiras de dezenas de metros de altura e corredeiras incríveis com águas claras.

Hoje o que movimenta a pequena cidade de cerca de 20 mil habitantes são as obras de uma usina da Votorantim, para extração de minério. Por causa dessa nova fase, Xambioá enfrenta dificuldade para abrigar a mão de obra que chega com a esperança de um futuro melhor. As pequenas e simples pousadas, antes destinadas a receber poucos turistas, agora hospedam e alimentam trabalhadores.

Nossa comunicação por telefone foi rápida. Aladir sabia intuitivamente que eu estava aguardando aquele contato. Três dias depois me encontrei novamente com ele. Minha viagem foi planejada em apenas algumas horas. Munido de uma mochila com duas trocas de roupa, mais dois gravadores, uma máquina fotográfica, protetor solar, farolete, tênis e repelente, embarquei em direção ao velho navegador solitário. De São Paulo a Brasília e de Brasília a Araguaína, ponto mais próximo de Xambioá, por via aérea, foi como o previsto. Mas de Araguaína a Xambioá tive de viajar num táxi, um Fiat ano 1999, dirigido pelo Feitosa, um maranhense de 50 anos, baixo e gordo, de cabelos grisalhos, que não perdia a oportunidade de, durante a viagem, se transformar, também, em guia turístico. O trecho de estrada asfaltada, de cerca de 140 quilômetros, praticamente sem postos de combustível ou qualquer suporte rodoviário, passando por cidades menores, foi vencido sem nenhuma dificuldade. O destaque ficou por conta das belezas naturais e seus contrastes, ora avistando terra árida ou cerrado, ora vegetação exuberante.

O trato com Aladir estava sendo cumprido. Prometi reencontrá- lo e lá estava eu no topo de uma rua íngreme, na frente de uma casa simples e cuja entrada denunciava ser local de pescadores, porque havia diversas caixas de isopor espalhadas e um aviso que maltratava o vernáculo: “Vendi Peixi”.

O encontro com Aladir lembrou o de dois amigos que não se viam há bastante tempo. Fez questão de me apresentar para cada um dos que ali estavam. Em seguida, tirou seu boné de abas largas, presente da sua filha que reside na Espanha, e disse:

– Vocês acreditam em mim agora? Este aqui é o jornalista Antoninho, lá de São Paulo.

O cansaço pelas horas de viagem de avião, de espera e de estrada e um calor de 35 graus não foram suficientes para qualquer desânimo. Na sede da colônia, sentei-me com Aladir e mostrei a ele meu caderno de anotações. Era o meu plano de trabalho. Queria ouvi-lo e depois soprar ao mundo sua existência, contar sua história. Começamos a entrevista imediatamente. Foram, naquele e nos quatro dias que se seguiram, horas de depoimento.

Isso, sem contar as nossas conversas sem gravação, testemunhos de amigos de “longa data” que acabavam de se reencontrar. Daqui em diante, a história é de Aladir.
O velho navegador continua a sua saga.
Nos últimos dias do mês de novembro ele cruzou o Rio Negro e manteve contato com povos ribeirinhos.

O livro Além dos Rios pode ser adquirido na livraria da Vila, localizada à Alameda Lorena, número 1731 ou pelo canal direto
de vendas, pelo telefone 11 - 3063.0477




Sobre o autor

Antoninho Rossini é jornalista e bacharel em direito. Iniciou sua carreira como repórter nos anos 60 trabalhando para jornais,revistas e emissoras de rádio e televisão. Lecionou Jornalismo na Fiam- Faculdades Integradas Alcântara Machado. É responsável pela Editora Tag&Line, que dentre as obras publicadas destacam-se “ A Vertigem das Urnas”, livro sobre marketing político e “Não diga para minha mãe que trabalho em propaganda...Ela pensa que sou pianista num bordel”, ambos de autoria do francês Jacques Séguéla, conhecido em todo o mundo pelos seus mais de 23 livros publicados e também como publicitário e consultor em comunicação.
A Editora Tag&Line também é responsável pela publicação de biografias e estudos sobre marketing e propaganda.